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Weird: The Al Yankovic Story: Obra substitui dramatização por sarcasmo e exageros

Estamos acostumados a conferir cinebiografias sempre carregadas de certos clichês: uma história melancólica, passagens de superação (ou não), dependendo do contexto também é explorado o abuso de álcool e droga, ou seja, o drama como o carro chefe. Tais inserções em obras desse tipo geram comoção no público e, consequentemente, tem melhor aceitação. Mas ao conferir Weird: The Al Yankovic Story, o espectador pode se descolar totalmente da dramatização e mergulhar em um mar de sarcasmo, absurdos e exageros. Sim, é nesses moldes que a vida do humorista e musicista norte-americano Al Yancovic é narrada, sob uma perspectiva inusitada e bem humorada do diretor Eric Appel e do próprio Yankovic.

Antes de iniciar minhas impressões acerca do filme, acho importante fazer uma curta descrição sobre quem é Alfred Matthew Yankovic: o mesmo é humorista, parodista, sanfonista e produtor de televisão. Yankovic ficou muito conhecido nos EUA por criar paródias de grandes clássicos da música pop americana nos anos noventa. Estamos falando de versões sarcásticas para composições eternizadas como Beat It (Michael Jackson), Like A Virgen (Madonna) entre outras. Tais feitos fizeram com que ele faturasse alguns Grammys. 

Sobre o elenco podemos destacar: Daniel Radcliffe como Al Yankovic; Evan Rachel Wood interpreta Madonna; Rainn Wilson (radialista Dr. Demento); Julianne Nicholson é Mary e  Toby Huss está pele de Nick – os pais de Yankovic. Temos também uma rápida participação do ator Jack Black.  Vale frisar que em 2010 foi divulgado o trailer para este trabalho, porém com outras caras. Por exemplo, quem estava confirmado para interpretar Yankovic era Aaron Paul, mas ao final, nesta versão definitiva quem abocanhou o papel foi Daniel, conhecido por interpretar o bruxo mais famoso dos últimos tempos, o Harry Potter. 

Na trama, Yankovic (Daniel Radcliffe) expressa um artista que ao conhecer a fama, se deixa levar pelo ego e vaidade. Após ser apresentado à Madonna (Evan Rachel), os dois vivem um romance e se envolvem em uma série de eventos nada amistosos. É justamente a partir desses acontecimentos que o roteiro ganha generosas doses de ficção. Eric usa a imagem de figuras reais e conhecidas do cenário artístico americano para criar um script fantasioso – basicamente são músicos que Yankovic usou de inspiração para criar suas paródias ou que estavam em alta na época. Inicialmente, podemos criar algum tipo de aversão, mas se entrarmos no clima e entender a proposta, que é quebrar alguns padrões para este tipo de gênero, o enredo fica muito mais interessante. 

Quanto a atuação dos atores, Daniel tem performance brilhante, fazendo com que nós, o público, desconfie realmente se é o mesmo ator que fez o bruxinho (Harry Potter) introspectivo e sério. Daniel é praticamente irreconhecível. Sua atuação é marcada pela espontaneidade, consegue imprimir um personagem totalmente diferente daquilo que já fez ao longo da sua carreira. Evan (Madonna) tem desempenho considerado ok – uma vilã carregada de características previsíveis e que não convence muito. Já Toby Huss (Nick) pode ser, também, um dos grandes destaques. Ele faz um pai totalmente excêntrico, mas o mais legal é que a bizarrice dele não é revelada de forma explícita e com o passar do tempo, Toby nos apresenta um outro personagem, pouco esperado – gerando alguns questionamentos naqueles que o observa como um patriarca, talvez, considerado abusivo. 

Ao contrário das tradicionais cinebiografias, o roteiro sobre a vida de Yankovic é construído na base de contos exagerados e que fogem completamente da realidade, porém sem deixar de passar por uma linha do tempo real: iniciada com a adolescência conturbada com os pais, passando pela descoberta da paixão pela música e insights para a criação de versões bem humoradas de grandes clássicos da música até o desfecho, o reconhecimento como artista. Quanto a escolha do formato atípico para uma cinebiografia, sim, podemos questionar e rotular como algo fora de comum, ok – em certo pontos muitos terão razão. Mas a grande sacada que percebi é: já que se trata da vida de uma figura que fez o seu nome em cima do humor, nada melhor do que trazer a vida dele para as telas do cinema com a mesma roupagem que fez de Al Yankovic conhecido. Outra questão a se pensar e que pode ser considerada assertiva é que na história, o protagonista é retratado como uma super celebridade, algo que, de fato, não é bem uma realidade - mais uma vez aqui a ironia é empregada como tônica.

No contexto geral, Weird: The Al Yankovic Story não é o longa do ano, ele peca um pouco nos cortes, criando um certo suspense, mas que logo na cena seguinte a mesma ganha rumos totalmente diferente. Algumas piadas não funcionaram muito bem, resultando em algo, para nossa infelicidade, bastante esperável. Mas, se você estiver preparado para uma estória totalmente descompromissada com questões pontuais, certamente terá bons momentos de diversão. É isso, confira sem esperar muito e a aceitação será bastante positiva.  

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