A narrativa do longa tem como foco os serviços de investigações das equipes jornalísticas dos jornais El País Brasil e The Intercept Brasil – este último foi o primeiro veículo de imprensa a ter acesso às trocas de mensagens entre Moro e a sua equipe. O protagonismo fica para os jornalistas Leandro Demori, atual editor-executivo do portal de notícias The Intercept; Carla Jiménez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, todas elas à época editora e repóteres do El País. Vale ressaltar que os diálogos só vieram a público por meio de Walter Delgatti, conhecido como o “hacker de Araraquara”. Mesmo Delgatti sendo peça chave por desvendar o teor das conversas, ele não tem destaque no roteiro de Maria – acredito que não por uma falta de consideração e sim por, talvez, a diretora preocupar-se em transparecer a rotina de um jornalismo investigativo e imparcial.
Sobre os depoimentos do elenco selecionado, mais precisamente daqueles que estiveram envolvidos diretamente com a Lava Jato, algumas falas são reveladoras e estarrecedoras. Chegamos ao ponto onde certo personagem, um executivo da Odebretch, Alexandrino Alencar, declarou que foi induzido a falar mais do que sabia, ou seja, existia o interesse, quase que obsessivo, em responsabilizar/criminalizar determinadas figuras públicas. E isso faz com que o espectador tenha, no mínimo, um ponto de reflexão. Já que esse caso, que ficou famoso por envolver executivos da maior estatal brasileira, a Petrobras, e Luís Inácio Lula da Silva em supostos esquemas de corrupção. Uma parcela da população terceirizou de olhos fechados a própria opinião, confiando plenamente na justiça – o que não julgo totalmente incorreto. No mais, a obra cria uma linha do tempo, onde o marco zero é a prisão de Lula, passando pelas as suspeitas de imparcialidade de Moro até o contestável governo de Jair Messias Bolsonaro.
Ter posicionamentos políticos, escolher um ideal, aquele que você acha que é mais justo para o coletivo é natural, também é aceitável que determinados setores da imprensa demonstrem estarem mais alinhados com um lado ideológico – seja de esquerda ou direita – não é nenhum crime. O inaceitável é instituições que detém o poder da comunicação distorcer a realidade, deixar de mostrar os fatos para, simplesmente, favorecer interesses políticos ou comerciais.
Certamente, por conta da polarização que o país está passando, ‘Amigo Secreto’ sofra alguns ataques por parte da audiência – é esperado quando lados opostos travam “batalhas” em que o emocional seja priorizado em vez da sensatez. Mas uma coisa eu posso afirmar: Maria Augusta ajudou a construir parte do documento que denunciará para os livros de história sobre o maior escândalo judicial do país.