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SEE HOW THEY RUN: Tem roteiro pouco empolgante, porém expõe tabus do universo da classe artística

Lançado em setembro/2022, ‘See How They Run’ (em uma tradução livre: 'Veja Como Eles Correm'), do novato diretor americano, Tom George, quebra as expectativas daqueles que esperavam por uma obra que surpreendesse a todos. O elenco é um excelente time de Hollywood, a história mescla realidade com ficção e é inspirada nos suspenses de grandes clássicos – tanto da literatura como do audiovisual –, porém não decolou como se esperava. Mas há diversas passagens provocadas pelo diretor que vale uma discussão, por exemplo: a “rivalidade” entre o cinema vs teatro e o ego da classe artística. Tais abordagens fazem com que depositemos um tímido voto de confiança.

Como descrito acima, os atores escalados para compor o cast trata-se de nomes relevantes do circuito: Sam Rockwell (Inspetor Stoppard); Adrien Brody (Leo Köpernick); Saoirse Ronam (Stalker); Ruth Wilson (Petula Spencer); David Oyelowo (Mervyn Cocker-Norris); Harris Dickinson (Dickie); Shirley Henderson (Agatha Christie). O responsável pelo roteiro foi Mark Chapell e a produção é de Damian Jones e Gina Carter.

A trama, ambientada em uma Londres dos anos cinquenta, gira entorno de uma tentativa desesperada do diretor Leo (Adrien Brody) transformar a famosa peça de teatro, ‘A Ratoeira’, em uma produção cinematográfica. Porém, tudo é travado com alguns assassinatos dentro do teatro (Ok! Acredite, isso não foi um spoiler), fazendo com que o mistério seja a tônica do enredo. A partir daí entram em cena o inspetor Stoppard (Sam Rockwell) e a novata policial Stalker (Saoirse Ronam), ambos foram incumbidos de solucionar o caso. E é dentro desse suspense que o roteiro começa a ganhar vida, envolvendo todos os personagens em um jogo de segredos e charadas –  convenhamos que os desdobramentos das cenas deixam o espectador pouco intrigado.

Apesar do gênero nos apresentar o rótulo de suspense, não espere muito. Talvez, tenha sido proposital do diretor não colocar o enigma como a grande cereja do bolo – assim pensa este que vos escreve –, já que as cenas não geram esse tipo de reação. Tratando dos acertos, gostei bastante da questão de inserir uma peça teatral real dentro da ficção. Sim, o espetáculo citado (A Ratoeira) foi escrito por Agatha Christie, tendo sua estreia em 1952 – a mais antiga peça em cartaz. Diga-se de passagem, Agatha (Shirley Henderson) ganha uma honrosa homenagem/menção. A personagem dela fica encarregada de dissertar, em um curto momento, sobre a construção, truques e valor que se tem um texto teatral.

Tal sacada de Tom, usar uma representação real do teatro junto à ficção – no caso, um egocentrista diretor de cinema – é o ponto inicial para a discussão sobre qual dessas artes têm maior relevância? O personagem de Adrien (Leo) é inserido como fiel defensor do cinema ao afirmar que “uma montagem teatral só conquista o selo de validação quando a mesma ganha produção cinematográfica”. Mas, ao mesmo tempo, o diretor escolheu como discurso de defesa, a mais antiga peça em cartaz, o que confronta diretamente a “arrogância” de Leo ao advogar a favor das películas de cinema. Vale destacar também, a questão do ego entre os artistas. Praticamente todos os personagens que fazem parte do elenco de destaque, em algum momento demonstram uma certa excentricidade – seja ela moderada ou mais apelativa – tal observação não deixa de ser um olhar clínico para este tipo de comportamento dos profissionais da arte, esses que colocam a vaidade acima de tudo


Partindo para as atuações dos atores, podemos classificar como apagada a passagem de Sam Rockwell. Acredito que foi um erro de escolha da produção colocar Sam para protagonizar um inspetor que pouco tem a apresentar. Sam tem o papel de um personagem indiferente, sem muito o que oferecer – o que não é muito das características dele – vide suas atuações em ‘7 Psicopatas e Um Shitzu’, ‘Três Anúncios Para Um Crime’ entre outros. O inspetor Stoppard parece confrontar problemas pessoais, tornando-se em uma figura de poucas expressões, porém, essa leitura – de um Stoppard introvertido por conta de um passado nebuloso – não fica clara para nós (o público). Não sabemos se tais aspectos fazem parte do personagem ou se Sam foi mal dirigido. No resumo, o inspetor demonstra pouco entusiasmo para a profissão a qual foi inserido e muito menos vontade de esclarecer os fatos que rodeiam dentro do Teatro Clandestino, e isso faz com que tenhamos reações negativas quanto a sua performance. Quem consegue salvar muitas cenas, com um certo humor mais sutil, é a personagem de Saoirse, a policial Stalker. Ela acabara de assumir o cargo de agente. Stalker, ao contrário de Stoppard, demonstra total ânimo em desmascara e prender o possível serial killer. Só que ao deixar a emoção falar em primeiro lugar, ela comete pequenas atrapalhadas, tais “tropeços” geram pontos positivos, pois cria carisma e empatia. Para quem está acostumado com os trabalhos anteriores de Saoirse (‘Adoráveis Mulheres’, ‘Laidy Burd: A Hora de Voar’ e ‘Brooklyn’) terá gratas surpresas. 

Já Andrien Brody na pele do problemático Leo conseguiu imprimir performances que sintetizam muito bem uma figura egocêntrica, arrogante e que deixa a soberba modelar o perfil de um ser desprezível. Nada como as características sarcásticas de Andrien para transparecer de forma impecável o seu personagem, isso reforça muito bem os objetivos da mensagem a se passar.

'See How They Run' não deve ter boa aceitação por parte daqueles que esperavam por um dos melhores filmes do ano, uma vez que o anúncio e escalação do elenco prometesse um longa acima da média. O enredo deixa a desejar, é bastante previsível, nada surpreendente – mesmo tal escolha, talvez, sendo cuidadosamente a intenção do diretor, acredito que o mesmo tenha sido um pouco infeliz em algumas decisões. Se é para ficar com títulos desse gênero, os recém lançados ‘Knives Out’ (Rain Johnson) e ‘Death on The Nile’ (Kenneth Branagh) conseguem nos prender muito mais que esta trama de Tom George.  Mas, nem tudo está perdido, tudo que posso lhe dizer é: assista sem compromisso, e assim terá agradáveis momentos, mesmo com as baixas.

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