A nova adaptação de ‘Nada de Novo no Front’ (2022), do diretor alemão Edward Berger, é baseado na obra literária de mesmo nome, do escritor Erich Maria Remarque e, também, trata-se de uma refilmagem de ‘Sem Novidade no Front’ dos anos 1930, dirigido por Lewis Milestone. Esta nova versão traz uma abordagem sobre a visão que um combatente tem antes e durante os confrontos de uma guerra. Berger, sob uma ótica mais crua e direta, nos apresenta um enredo forte, instigante e que, no contexto geral, fortifica uma mensagem de antiguerra.
Para o elenco, temos de destaque os seguintes atores: Felix
ammerer (Paul Bäumer), Moritz Klaus (Franz Müller) Albrecht Schurch (Stanislaus), Aaron Hilmer (Albert
Kropp), Edin Hasanovic (Tjaden Stackfleet), Daniel Bruhl (Mathias Erzberger),
David Striesow (General Friedrich), Andreas Döhler (Lieutenant Hoppe), Anton
von Lucke (Hauptmann Von). O roteiro foi escrito por Ian Stokell e Lesley
Paterson e, claro, pelo o autor do livro, Erich M. Remarque.
A trama se passa já no final da Primeira Guerra Mundial (1917), onde os principais envolvidos começam a traçar um acordo de cessar fogo – mesmo com a Alemanha ainda alimentada pela forte propaganda em busca de novos voluntários para recompor o seu exército. Sob toda essa influência persuasiva, três amigos: Paul (Felix), Müller (Moritz) e Albert (Aaron) forjam a própria idade e se alistam para viver o sonho de defender a pátria – mesmo que esta ilusão venha transformar-se em uma completa e verdadeira frustração. Em contraponto a toda a visão “romântica” - adotada pela juventude - da guerra, temos o panorama mais sincero do encarregado alemão Mathias Erzberger (Daniel). Mathias tem um olhar mais imparcial e uma real noção dos prejuízos que os confrontos vêm causando, principalmente no momento em que ele conclui sobre a quantidade assustadora de milhares de vidas interrompidas – a maioria são de garotos que estão apenas começando a entender o mundo.
Berger procura explorar, sob um ponto de
vista singular, quase que em primeira pessoa, as impressões de um guerreiro nas
trincheiras. No caso, estamos nos referindo a Paul. Da euforia, passando pelas
desilusões até chegar nas angustias e medos, o, até então, admirado tem que lidar com todos estes
confrontos internos, enquanto isso, sem muito tempo para pensar, precisar
eliminar o “adversário”. Há momentos em que é nos passado minutos de compaixão, onde o “inimigo”, já na beira da morte, revela também ter esposa, filhos – ou seja, uma vida comum – e como sinal
de socorro expressa a Paul um olhar misericordioso, provando que do outro lado não
existe um monstro a ser derrotado, como nas obras de ficção – tudo
isso reforça a ideia de uma realidade totalmente desmitificada da ilusão a qual
as Forças Armadas passam da guerra. Sim, mesmo vencendo, o recrutado não se
sentirá glorioso e muito menos voltará (e se voltar) pra casa mais forte que nunca – muito
pelo contrário, o que restará são traumas e cicatrizes (físicas e mentais) que
dificilmente serão curadas.
A comparação que podemos fazer de ‘Nada de Novo no Front’ com outros longas que abordam o mesmo tema, é que o trabalho de Berger expõe, de forma mais explícita, artefatos que foram pouco ou nada exibidos: o uso de lança chamas, gases letais e, até, tanques de guerras – considerados para época um avanço do poder bélico. Estas armas de ataque ajudam a revelar cenas mais agressivas e de difícil digestão para o espectador. A montagem e design de produção também buscam reproduzir, nas locações, uma realidade a qual torna tudo mais animalesco, o que, de fato, foi a época dos embates. Abrigos encharcados com muita lama, rios de sangue junto aos ratos trazem toda uma sensação de desconforto – sem contar que tais subcondições foram motivos do surgimento de diversos efeitos colaterais negativos nos sobreviventes. Já a fotografia, para complementar o conceito de miséria e obscuridade, abusa muito bem de tons mórbidos e cinzentos. Todos esses conjuntos corroboram, com certa autenticidade, a visão grotesca do que foi aquele período. 1917 – dirigido por Sam Mendes e que também é sobre a Primeira Guerra Mundial – foi um dos poucos que conseguiu alcançar este nível de aproximação com a realidade, porém o apelo ficou voltado mais para a montagem.
Quanto as atuações, Paul Bäumer, Albrecht Shcurch e Daniel Bruhl são os destaques. Paul na pele de Felix imprimi com muita qualidade facetas que o seu personagem tem de passar durante os atos: partindo de uma inocência, para as expressões de pânico até a formação de quase um "zumbi", resultando ao final, o irreconhecível rapaz durão do início. O público compra fácil a dor de Felix. Albrecht também não fica para trás ao interpretar Stanislaus. O mesmo é inserido em situações complexas as quais tem de enfrentar, entre elas, dramas pessoais. E em algumas passagens, Albrecht ensaia perfeitamente estado de choque, fúria e total leveza, todas elas muito bem interpretadas, como exige a tomada. E Bruhl, apesar de não ter muito destaque, mas é uma peça fundamental para o desenrolar da trama. No papel de agente e encarregado do Estado, o observador e analítico Mathias, é de poucas expressões, porém, é perceptível que ele está tomado pela emoção dos acontecimentos. No resumo, ‘Nada de Novo no Front’ não procura idolatrar determinado indivíduo, não tem a função de transformar nenhum dos atuantes em elemento notável – mesmo com o foco em Felix, a valorização é do conjunto – tanto que os atores não ganharam espaços nas principais premiações do circuito cinematográfico – não que isso sirva de termômetro para avaliar e validar a qualidade de um ator/atriz.
Sim, é possível que, você que ainda não conferiu ‘Nada de Novo no Front’, venha questionar sobre a necessidade de mais uma criação desse gênero - uma vez que o tema tem ficado bastante saturado pelo mercado fonográfico. Mas insisto que esta película faz-se necessária para certas compreensões as quais não tivemos nas anteriores. Berger nos ilumina para um outro ponto de vista, quase que exclusivo, que é a experiência visual e marcante do quão pavoroso é está inserido em um ambiente de batalhas. Como poucos, aqui nós temos a conclusão de que ninguém ganha. As tropas perderam milhares de soldados em troca de um avanço mínimo no espaço territorial. Serve também de lição de que a vida e o amor aos nossos próximos é impagável perto de uma falsa idolatria e devoção aqueles que, na verdade, estão em busca de interesses próprios e afim de alimentar o próprio ego. E sim, tive o desprazer de concluir o quanto foi idiota e sem sentido a Primeira Guerra. Qual foi consequência dela? Além do extermínio em massa de milhares de adolescentes, ela serviu, indiretamente, para arquitetar a Segunda Guerra Mundial – o resto você, caro leitor, já sabe.