Ricardo Batalha é formado em Direito, mas optou por seguir o ramo de jornalismo, tudo em nome de sua paixão pelo rock. Fã declarado de Hard Rock e Heavy Metal dos anos 80, tem como suas bandas prediletas Black Sabbath, Ratt, Kiss, Judas Priest, Accept, entre muitas outras destes gêneros. Ele é sincero e direto em seus comentários e respostas, por conta disso é mal interpretado quando ganha o rótulo de imodesto. Além disso, ele também é incentivador e defensor da causa underground do cenário nacional. Conversamos sobre diversos temas, incluindo seus anos na revista Roadie Crew, cena musical e suas outras atividades em prol do Metal nacional.
São muitos anos como redator-chefe da revista Roadie Crew. Conte um pouco do começo de tudo isso, ano que você entrou para equipe.
Ricardo Batalha: A Roadie Crew começou como um fanzine e a primeira edição saiu em agosto de 1994, quando foi realizada a primeira edição do festival 'Monsters Of Rock' em São Paulo. Antes disso, como sempre gostei de escrever, já havia editado dois fanzines – Deathcore e Silent Rage. Conheci o Claudio Vicentin no Black Jack Bar (SP), já que naquele dia a banda dele, Cicatrix, faria a abertura de um tributo ao Black Sabbath, que não era o Electric Funeral do Vitão Bonesso (Backstage). O baixista do Cicatrix era o Rodney Christófaro, idealizador do programa Maloik e primo do baterista Amilcar, do Torture Squad. Pois bem, assisti aos shows, mas não curti aquele cover do Sabbath. Como tinha gostado do som do Cicatrix, resolvi pedir o material deles para divulgar no Silent Rage, que fazia com meu irmão, Frederico Batalha. Tempos depois, como já havíamos formado uma amizade, fui para o fanzine Roadie Crew na edição #03. O zine passou a ser uma revista em maio de 1998, com a edição #08 e manteve-se inicialmente com frequência bimestral até a edição #25, quando passou a ser publicada mensalmente.
Já chegou um dia em que você parou pra pensar e desistir de tudo e seguir para com sua carreira de Direito?
Ricardo: Desistir de tudo não. Fiz o caminho inverso e não me arrependo, mas já pensei inúmeras vezes em sair da revista, só que não para voltar ao Direito. Ao longo dos anos recebi diversos convites para trabalhar em outras empresas. Algumas propostas realmente me fizeram pensar em sair, mas vamos em frente. Na realidade, acumulo diversos outros trabalhos além da Roadie Crew, pois não daria para sobreviver só com a revista.

A revista chegou aos quinze anos de existência. Como é trabalhar em um ramo que por parte de vocês tratam o cenário underground com profissionalismo, mas que ainda é visto por parte da imprensa não especializada como um mundo de amadorismo?
Ricardo: É muito complicado, mas não importa se é underground, mainstream, banda gigante ou novata, o tratamento tem que ser o mesmo. Só porque lidamos com música pesada tudo tem que ser mal feito? Nunca! A imprensa que você fala não trata como um mundo de amadorismo porque ela nem conhece, não tem a menor noção do que é isso. Nós falamos para uma nação que é fã de música pesada e consome os produtos.
Ricardo: É muito complicado, mas não importa se é underground, mainstream, banda gigante ou novata, o tratamento tem que ser o mesmo. Só porque lidamos com música pesada tudo tem que ser mal feito? Nunca! A imprensa que você fala não trata como um mundo de amadorismo porque ela nem conhece, não tem a menor noção do que é isso. Nós falamos para uma nação que é fã de música pesada e consome os produtos.

Ricardo: Para alguns, falta visão. São amadores porque não trabalham direito e não corrigem as falhas. Sobre produtores, não me conformo que em 2013 uma revista como a Roadie Crew não consiga entrevistar certas bandas ou que o programa Maloik tenha sua credencial negada para cobrir shows. Sobre bandas, os erros cometidos são muitos, mas deixo apenas um recado: música não é só música! Apesar disso, todo mundo comemora que temos uma avalanche de shows internacionais (com ingressos caros), mas isso infelizmente reflete no cenário interno. Os músicos desanimam, perdemos talentos e diversas bandas encerram as atividades. Alguns realmente desistem de tudo, outros viram professores de música ou integrantes de bandas cover, tocando apenas por hobby. Claro que todo mundo tem o direito de ir onde quiser, comparecer ao show que quiser, mas a minha pergunta é: será que não existe nenhuma banda do Brasil que o sujeito gosta? Não é possível isso, só pode ser má vontade mesmo.
Vamos falar da seleção dos grandes sessenta álbuns brasileiro. A lista acabou que serviu para ressuscitar e até mesmo uma homenagem para alguns discos relacionados. Posso citar 'Portal do Inferno" do Alta Tensão, o auto-intitulado 'Inox' e 'First' da banda brasiliense Volkana. Tem algum em especial da lista que você coloca em destaque?
Ricardo: Na verdade a minha lista teria mais de cem discos, porque eu realmente curto o nosso Metal! Tem alguns da lista que eu não gosto, mas a maioria que consta lá eu curto e tenho na minha coleção – muitos em vinil e CD. E você falou ressuscitar, mas eu diria resgatar a memória, algo que também fazemos na revista em seções como 'Hidden Tracks', 'ClassiCREW' e 'Background'.
Ricardo: Na verdade a minha lista teria mais de cem discos, porque eu realmente curto o nosso Metal! Tem alguns da lista que eu não gosto, mas a maioria que consta lá eu curto e tenho na minha coleção – muitos em vinil e CD. E você falou ressuscitar, mas eu diria resgatar a memória, algo que também fazemos na revista em seções como 'Hidden Tracks', 'ClassiCREW' e 'Background'.
Entendo que em uma lista sempre vai faltar aquele disco, ou alguém não vai concordar ou algo parecido. Mas a verdade é que eu senti falta do primeiro álbum da banda Dark Avenger e nenhum álbum da banda paulistana Wizards entrou para lista..
Ricardo: Como venho dizendo, é muito complicado e, por vezes, injusto fazer listas porque muita coisa fica de fora. Eu teria incluído o 'Rebirth' do Angra ou o 'Motion' do Almah para mostrar o talento do vocalista Edu Falaschi. Do Sepultura ainda teriam dois discos definitivos: 'Schizoprenia' e 'Roots'. Além destes, também gostaria que o trabalho de bandas como Karisma, Amen Corner, Sextrash, A Chave do Sol, Firebox, Skyscraper, Wizards e Exhort tivessem entrado, mas realmente não dá para colocar tudo. Até mesmo Hard Rock, que sempre falo que não temos muitos representantes nesta linha, tem os discos do Platina e do Cavalo Vapor que não entraram.

Ricardo: Estou na revista Roadie Crew e no programa Maloik desde o início, em janeiro do ano passado. No Heavy Nation eu apenas fiz uma 'participação especial' no ano passado para cobrir as férias da Paula Baldassarri. Ela deixou o programa este ano e agora o Heavy Nation conta com Julio Feriato, Fernanda Lira e Mauricio Dehò como apresentadores. Você não mencionou a Brasil Music Press, de assessoria e consultoria, que tenho desde 2004 com a Heloisa Vidal. Além disso, desde janeiro deste ano organizo o projeto 'Peso Brasil' com o Manifesto Bar, um evento destinado somente para bandas autorais – informações sobre o projeto podem ser encontradas em http://is.gd/AZ8J0h.
O que você diria para um garoto que busca espaço e sonha em ganhar dinheiro e fama com sua banda de rock?
Ricardo: Aposte na loteria porque a chance de ganhar é quase a mesma. (risos). Bem, claro que se este for mesmo o sonho do garoto e ele tiver aptidão, interesse e força de vontade, jamais deverá desistir. Mas eu quero que ele tenha em mente, desde o começo, que música não é só música. E mais, não escute gente demais falando que o que importa é só a parte técnica porque não é. Então, aprenda a lidar com os negócios e estude não somente o instrumento, mas música em geral para tentar criar músicas boas. Afora isso, um cara que começa já pensando em ser rockstar e ter fama seria o mesmo de um moleque que está na categoria de base, no Sub-15, no basquetebol e pensa em ser o MVP do All-Star Game da NBA. Ele até pode ter isso como ambição, como sonho, mas não iniciar a carreira já achando que vai ser isso, ganhar rios de dinheiro e ter fama. Aliás, me cite um rockstar da nova geração, aquela pessoa que todo mundo conhece pelo nome, independentemente se curte ou não o som? Portanto, se começar assim, começará errado. Precisa ralar bastante, isso sim! Quer chegar e tocar no Credicard Hall sem passar pelo buraco imundo do underground? Esqueça, não vai rolar.
Um artista que você nunca realizou uma entrevista mas que tem vontade de fazer?
Ricardo: Paul Stanley (Kiss).
Sei que você é um cara apaixonado pelos anos oitenta! Mas agora gostaria que mencionasse três grandes álbuns do Metal mais moderno, o ponto de partida seria os anos 2000. Toparia (risos)? Se quiser pode citar algum do Rhapsody Of Fire...
Ricardo: Não citaria porque, apesar de conhecer o piadista, contador de histórias e palmeirense Fabio Lione e considerá-lo um dos caras mais legais do Metal, eu nunca gostei do estilo praticado pelo Rhapsody Of Fire. Por sinal, quando a banda ainda era uma só e não duas separadas eu entrevistei o Luca Turilli e ele também é muito gente boa – o sotaque 'italianão' dele falando inglês é imbatível! (risos) Bem, um ótimo disco pós-2000 para mim é o 'Burn The Sun' do ARK. Também posso citar algumas bandas ditas 'modernas' que escuto, como Parkway Drive, Emphatic, Burn Halo, Drowning Pool e Disturbed. Um legal de Hard Rock que poucos comentam é o Bombay Black, que lançou o álbum 'Bullets And Booze' no ano passado. Além deste, em 2012 eu também posso destacar Hotel Diablo ('Return To Psycho California'), Mustasch ('Sounds Like Hell Looks Like Heaven'), The Last Vegas ('Bad Decisions'), The Sword ('Apocryphon') e Tremonti ('All I Was'). Pronto, não citei nada anos 70, 80 ou 90! (risos)
Sites relacionados:
www.roadiecrew.com
www.maloik.com.br
www.brasilmusicpress.com