O cast
principal é composto por Gabriel Labelle (Sammy Fabelman), Michelle Williams (Mitzi
Fabelman), Paul Dano (Burt Fabelman), Julia Butters (Reggie Fabelman), Judi
Hirsch (Boris Podgorny), Seth Rogen (Bennie Loewy), Chloe East (Monica
Sherwood), Sam Rechner (Logan Hail), David Lynch (Jonh Ford). O roteiro
foi escrito por Spilber em parceria com Tony Kushner. A produção ficou a cargo
de Kriestie Mocosko, Spilberg e Kushner. Quem assina a fotografia – esta que
reproduz com muita fidelidade a época - é Janusz Kaminsk.
A história da família Fabelmans inicia a partir do momento em que os pais de Sammy (este é o nome fictício dado a Spilberg dentro da trama) decidem levar o garoto pela primeira vez ao cinema – vale ressaltar que os diálogos do casal, antes de entrarem na sala, é uma síntese crucial para entender o quanto eles foram influentes para a formação inicial de Sammy. O pai sempre com a sua visão técnica, explicando sobre artefatos tecnológicos que contribuem para a concepção das imagens. Já a mãe, de caráter mais emotivo e artístico, usa de discursos emocionais para encantá-lo. A partir da primeira ida à sessão, para conferir o clássico ‘O Maior Espetáculo da Terra’ (1951), o filho fica um pouco chocado com o que ver na tela, porém, ele usa do trauma – que fica impregnado em sua mente – para reconstruir a cena com objetos encontrados em casa: um trem de brinquedo e uma câmera super 8, pertencente ao patriarca. É impressionante o quanto, a simples filmagem caseira, revela em Sammy uma criança já com um olhar clínico para cortes, ângulos e tempo. Mais tarde, um pouco mais velho e interpretado pelo brilhante Labelle, Sammy busca aprimorar o seu dom com captações de imagens amadoras, usando as irmãs de cobaia.
Ao explorar o seu gosto pelas câmeras e registrar coisas e
pessoas, Sammy descobre o seu primeiro drama familiar, a desconfiança de uma
relação extraconjugal – esta que vem se concretizar tempos depois – da mãe com
o fiel amigo da família Bennie (Seth Rogen). O que mais me chamou a atenção é
como o filho usa de uma dor, ainda não revelada, para romantizar a sua visão do
relacionamento da mãe em seus experimentos cinematográficos. Não que o mesmo
seja conivente com a situação ou glamouriza o adultério, mas sim, estamos
falando da compreensão e empatia que o filho tem pelos sentimentos da mãe, ainda mais quando ela
ganha a confiança dele ao certificar todo o seu amor e dedicação que tem pela a
própria família. Outro desconforto enfrentado não só por Sammy, mas por todos,
são os frequentes deslocamentos de cidade por conta do emprego do pai – pois
neste período era muito comum as empresas remanejar seus funcionários para
outras sede. Em uma dessas moradias, Sammy bate com a rejeição na escola em que
estuda por, simplesmente, ser um judeu. Como um clichê de filme de sessão da
tarde, porém super válido e necessário, Spilberg maximiza o antissemitismo que
ainda era forte nos EUA ao colocar as dificuldades e rivalidades que o Felbeman
Jr. Tem de passar na sua rotina escolar.
Quanto as atuações dos atores, alguns merecem destaque, como é o caso de Judi Hirsch na pele do tio Boris. Este, já há algum tempo sem visitar a sobrinha (Reggie), tem curta e rápida passagem, mas digna de um prêmio. Boris já é um senhor de idade com uma vasta bagagem sobre a arte. Da forma que ele narra as histórias – algumas delas é sobre a origem dos filmes mudos – é única e convicente. Em um particular com o sobrinho-neto, também é muito enfático sobre o papel do artista e suas consequências aos que se dedicam de corpo e alma – sim, pela ótima performance, Judi foi indicado ao Óscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante – só não deve levar devido a curta participação. Michelle Williams – também indicada ao prêmio de Melhor Atriz – tem seu brilho na pele da senhora Mitzi. Michelle consegue imprimir uma mãe e esposa de veia totalmente artística e ao mesmo tempo constrói uma mulher do lar, que a todo momento demonstra preocupação e cuidado com os seus. O texto que é lhe passado é forte e poético, principalmente quando ela revela a necessidade de viver uma liberdade a qual, na condição que se encontra, lhe é cerceada. É complexo representar um papel em que exige duas facetas. Tal feito é concluído com sucesso, convencendo o público perfeitamente sobre autenticidade em cada. Gabriel Labelle também convence ao fazer um Sammy introvertido no social e totalmente focado naquilo que se propõe a criar. Sua maneira de explicar e passar técnicas que ele sabe e aprendeu sobre o seu ofício também impressiona, soa muito realista, como de um especialista.
Steven Spilberg conseguiu um feito extraordinário, fez de um pequeno recorte da sua história de vida e a transformou em uma poesia para os amantes da cinematografia, em outras palavras, um verdadeiro tributo ao cinema. Apesar do diretor escrever e dirigir a própria cinebiografia, o que temos aqui passa longe de um conto carregado de ego, muito pelo contrário, o que o espectador vai conferir é uma série de ensaios e técnicas que nos inspira, principalmente profissionais da área. O objetivo, muito bem atingido, foi fazer do dom de Spilberg com as lentes em uma espécie de mecanismo que nos desconecta, por algumas horas, de uma realidade e nos leva a um mundo criativo, romântico e hipnotizador.